O PT Não Para de Sangrar

Pior do que os escândalos que abalaram o Partido dos Trabalhadores em toda a sua estrutura, é a sangria que se verifica agora com a saída irreversível de vários militantes históricos, que fundaram o PT ou ajudaram a construí-lo em lutas memoráveis. Para citar apenas alguns, Plínio de Arruda Sampaio, Hélio Bicudo, Ivan valente, Maninha. Foram referências petistas durante muitos anos em inúmeras batalhas, parlamentares ou extra-parlamentares. Não interessa em que posição eles se situavam no variado e saudável espectro ideológico petista. O que importa –e muito – é que abandonaram o PT. E estas são feridas que não cicatrizam, especialmente neste momento doloroso que vive o Partido dos Trabalhadores. Não está em julgamento a decisão dos companheiros e companheiras que saíram. É uma posição pessoal, consciente, que precisa e deve ser respeitada. Mas o Partido tem todo o direito de lamentar profundamente a retirada de seus quadros históricos.

Plínio, Ivan, Bicudo, Maninha são símbolos, mas com eles também saíram do PT centenas de militantes, o que provocou uma hemorragia preocupante que precisa ser estancada com a máxima urgência. O pior é que esta sangria ocorre justamente em um momento no qual a histórica e invejável democracia, apesar de tudo, revelou toda a sua força no Processo de Eleições Diretas do dia 18 de setembro e, agora, se prepara para um segundo turno que certamente terá a marca do primeiro. A história petista pode se revigorar rapidamente, mas para isso é necessário o esforço de todas as instâncias partidárias, dos máximos órgãos dirigentes ao militante anônimo. É difícil, muito difícil, mas tem que ser feito, a começar pela revisão de algumas práticas nocivas que se consolidaram nos núcleos diretivos e o abandono de bandeiras históricas defendidas pelo PT ao longo de seus bem vividos 25 anos.

Por um dessas ironias que soam trágicas, na última sexta-feira o PT perdeu um de seus mais significativos militantes, o “ficha 2”, Apolônio de Carvalho, segundo Jorge Amado “o herói de três pátrias”. Mas Apolônio se rendeu à única inevitabilidade: a morte. Foi sepultado coberto pela bandeira do PT. Mas justamente no momento mais dramático da história do Partido dos Trabalhadores. Apolônio de Carvalho foi, além da figura lendária, um militante exemplar que vai fazer muita falta, por sua retidão, sua firmeza de princípios e sua honradez. Vai fazer ainda mais falta nesta hora difícil que vive o Partido.

Finalmente, devemos pensar com carinho nos milhares de militantes que estão desanimados, desiludidos e inconformados. Para eles e para elas o PT deve olhar com uma atenção redobrada. Afinal são eles e elas, os miliutantes que escreveram  nas ruas a história do PT. São a carne e o sangue do Partido. Na rua, dia destes, encontrei Graco, militante bravo, dirigente de zonal. Ele me convidou para um cafezinho e me deu a notícia que certamente não gostaria de saber: ele e outros companheiras e companheiros, sem abandonar a luta, estavam deixando o PT. Um cenário triste e desolador. Uma sangria que não para.  
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30/09/2005 - Zero Hora